domingo, 27 de março de 2011

Flâneur

O Flâneur é ser que observa o mundo que o cerca de maneira real e descritiva, levando a vida para cada lugar que vê. O flâneur descrever as cidades, as ruas, os becos, o externo. Desvincula-se do particular, recrimina o privado, de forma a ver a rua como lar, refúgio e abrigo. Este sentimento flaneuriano reflete a necessidade de segurança do indivíduo, a necessidade de identificação dele para com a sociedade. A rua é seu lar, seu mundo. Ali nada é estranho ou prejudicial. Na rua se sente confortável e protegido. O flâneur do século XIX representou a angústia da Revolução Industrial.
Mesmo que não habitante constante da rua, o indivíduo flâneur utiliza sua janela (caminho livre para o externo) para fazer sua observação e seu retrato. O flâneur é um fotógrafo. Porém além de imagens, ele registra idéias, sentimentos e atitudes. Descreve tudo com perfeição e carinho. Ama o mundo exterior e dele faz seu ideal profissional e emocional.

No Brasil também temos representantes desta categoria. João do Rio (1881-1921), andarilho urbano com forte senso de observação, é um flâneur, em A alma encantadora das ruas, que relembra o Rio de Janeiro de 1905, onde o prefeito Pereira Passos  e o sanitarista Oswaldo Cruz levavam o projeto Paris Tropical, dando uma nova feição à cidade.


"Flanar é ser vagabundo e refletir, é ser basbaque e comentar, ter o vírus da observação ligado ao da vadiagem. Flanar é ir por aí, de manhã, de dia, à noite, meter-se nas rodas da população (...). É vagabundagem? Talvez. Flanar é a distinção de perambular com inteligência. Nada como o inútil para ser artístico. Daí o desocupado flâneur ter sempre na mente dez mil coisas necessárias, imprescindíveis, que podem ficar eternamente adiadas."

Mas a flanagem carioca não se resume a João do Rio, podemos considerar o Poetinha Vagabundo  Vinícius de Moraes um flâneur. Em seus versos, como observador, nasceu Garota de Ipanema. Vinícius exalta a beleza da mulher carioca que passa por ele na praia de Ipanema. Nestes versos há grandes semelhanças com o poema anteriormente citado de Baudelaire (A Uma Passante).

Olha que coisa mais linda,
Mais cheia de graça.
É ela menina que vem,
E que passa.
Num doce balanço,
a caminho do mar.
Moça do corpo dourado,
Do sol de  Ipanema.

O seu balançado,
É mais que um poema.
É a coisa mais linda,
Que eu já vi passar (...)

A cidade pós-moderna como núcleo urbano já não se configura como fetiche recorrente para o cosmopolita contemporâneo, não é mais lugar do choque, que inspirava o flâneur. Walter Benjamin acreditava no desaparecimento do poeta flâneur com as transformações das grandes cidades. Mas, assim como Hessel, nós não acreditamos na queda do flâneur. Hoje, o espaço para ser visto fragmentou-se em bares, restaurantes, lojas não do centro de uma metrópole em particular, mas no mundo inteiro. Mais além, é mais relevante ser visto através das telas, da televisão, do cinema e, principalmente, do computador. As imagens são mais valiosas para o cosmopolita pós-moderno que a realidade.
Atualmente, andar na cidade ou clicar numa home page transformaram-se em formas de flanar, o indivíduo-observador segue: passeando pelo mundo afora na cidade que não tem mais fim. (LIMA,1994)
(Fonte: http://www.webartigos.com/articles/1285/1/Trilhando-Dialogos-Com-Baudelaire/pagina1.html#ixzz1Hr9vMe3v)

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